quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Eleições - The Day After

Vencemos a eleição, e se você convive com eleitores do candidato derrotado ou tem o costume de participar de redes sociais da internet já deve ter ouvido/lido muita coisa do tipo: “O Brasil perdeu!” / “Agora o Brasil acaba!” / “O povo é burro, ela vai acabar com o país!” / “Agora o país afunda!” e muitos e muitos similares.

Bem, esse discurso, que afirma que um governo do PT, um governo do Partido dos Trabalhadores, destruiria inexoravelmente o país já foi discursado em 2002. Nesse ano Lula foi eleito presidente, o primeiro presidente do Brasil com origem nas camadas mais desfavorecidas de nossa sociedade.
Disseram não época: “Ele não tem o preparo necessário.” / “Ele não tem diploma universitário.” / “Ele fala errado.” / “Ele vai enterrar o país”. Obviamente para nós que vivemos em 2010 esses vaticínios de oito anos atrás não se cumpriram, o PT não destruiu o país, pelo contrário, ele avançou em muitos pontos.

Durante o governo do PT a taxa de desemprego caiu, o acesso a educação em nível superior aumentou, a economia se fortaleceu dependendo cada vez menos de auxílio externo como o do FMI, o salário mínimo foi sistematicamente reajustado a cima da inflação, o PIB vem aumentando ano a ano, a rede elétrica alcançou novas regiões, as crises econômicas mundiais não golpearam a economia do país com todo o impacto que poderia se o Brasil não contasse com uma economia mais forte e uma administração que soube lidar com a crise e, principalmente entre vários outros pontos positivos, as políticas sociais desses últimos oito anos tiraram milhões de pessoas da faixa de pobreza extrema. Esses avanços são fatos, não podem ser negados, mesmo por quem não concorda com o modelo de administração do PT, esses também não podem negar que nesses oito anos o Brasil não se transformou no inferno previsto em 2002, não podem negar que pelo contrário o país avança.

Aos que discordam da eleição de Dilma, do modelo de governo do PT, e que tem todo o direito de fazê-lo, cabe agora o importante papel democrático de oposição. De lutar pelo país conforme sua própria ideologia, contrapondo ou apoiando projetos do governo conforme sua avaliação desses projetos, não torcendo e trabalhando sempre contra, não torcendo para nada dar certo apenas na esperança de ter a satisfação egoísta de poder falar “Eu bem que disse!” e depois tentar voltar a ser governo na próxima eleição. Cabe a esses descontentes com a vitória de Dilma fazer uma oposição coerente, baseada nas reais diferenças ideológicas e de modelo de governo, não em um discurso requentado sobre o fim do mundo sob o jugo do PT que já vem sendo usado e reusado desde a eleição de 1989, com o apoio velado ou declarado de vários e poderosos setores da mídia. (PiG: http://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_da_Imprensa_Golpista)

Aos que mais uma vez estão reproduzindo esse discurso do fim do mundo em decorrência de um governo do PT vale lembrar que no governo de quase oito anos do PT (No qual o Brasil não foi aniquilado, constatem) é muito provável que alguém que você conhece, ou que você mesmo, tenha se beneficiado de alguma nova política do governo.

Talvez você conheça alguém que só teve acesso a universidade devido às políticas governamentais, talvez ele seja um dos seus melhores colegas. Talvez você conheça alguém que conseguiu a casa própria com uma linha de financiamento mais popular da Caixa Econômica Federal, talvez você tenha comprado seu primeiro carro com uma linha de financiamento de um banco do estatal, talvez você já tenha pegado carona num carro comprado dessa forma e nem sabe, talvez seu pai ou mãe tenha trocado seu veículo por um modelo mais novo aproveitando a queda do preço quando o governo reduziu os impostos como parte do pacote de medidas que habilmente amenizaram a crise econômica que castigou outros países com bem mais intensidade que o nosso Brasil. Talvez você tenha trocado algum eletrodoméstico quando os preços desses também baixaram no mesmo pacote, ou conheça alguém que o fez. O país está perfeito? Obviamente não. O país está afundado num abismo sem fundo? Obviamente não. Agora você pode me dizer, consegui minha casa, meu carro etc. porque trabalhei muito, e eu lhe digo sim, claro, mas trabalhou porque tinha trabalho, porque o governo do PT diminuiu o desemprego, ou todo o seu esforço e dedicação seriam gastos batendo de porta em porta sem conseguir uma posição na cadeia produtiva. O país avança e um governo que tem mais de 80% de aprovação popular não pode estar erigindo uma filial sul-americana do inferno. Não há indicadores que justifiquem esse medo do Brasil afundar. O PT já teve oito anos consecutivos para extinguir o país, mas ao invés disso o melhorou, tanto que o povo acaba de lhe dar mais quatro anos para continuar no mesmo rumo.

A oposição não deve se calar, deve manifestar sua insatisfação, mas com um discurso coerente, com argumentos coerentes, sem xenofobia, sem dividir o país em dois ou três só para ganhar a eleição em um deles. Sem um discurso preconceituoso, requentado e totalmente incompatível com a realidade que vivemos nos últimos oito anos.


Paulo.